quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Da Praia do Pinho à Colina do Sol - Sinopse Histórica

Era janeiro de 1985 e eu estava desfrutando meus quinze dias de férias em Santa Catarina, em companhia de minha então esposa, Márcia. Estávamos acampados em Quatro Ilhas, próximo a Bombinhas. Ideal para quem gosta de surfar e fazer caça submarina. No canto Norte, tem mar calmo e uma costa excelente para mergulho. No Sul, ondas. A sensação de contato com a natureza era quase plena. Para torná-la completa, começamos a procurar praias desertas para poder tirar nossas roupas e sentirmo-nos como náufragos numa ilha deserta. Fomos até Canto Grande, Zimbros e Mariscal, onde Márcia arriscou um topless. Não era, ainda, o lugar que procurávamos.

Resolvemos, um dia, ir almoçar em Itapema, no restaurante do Carlinhos, que era de um amigo nosso.

Eu lembrava de uma reportagem na revista Manchete, no ano anterior, sobre uma praia de nudismo em Santa Catarina.

- É... Tem uma praia aqui perto, onde dizem que o pessoal faz nudismo - disse ele. Olhou-nos, de cima a baixo, como se estivesse nos imaginando nus, com aquele ar de "quem diria?..."

- Onde é? - perguntei, pensando que teria de rodar ainda uns duzentos ou trezentos quilômetros até chegar à tal praia.

- É aqui perto de Camboriú. Uns dez quilômetros - respondeu, com ar desconfiado. Explicou-me como chegar ao local e foi atender outros clientes.

Terminamos de almoçar e fomos, rapidamente, à procura da praia de nudismo.

Sofremos um bocado até chegar lá, pois meu carro enfrentou dificuldades patinando contra as íngremes subidas de cascalho e terra batida.




No topo do morro, avistamos a praia. Era pequena. Uns quinhentos metros de areia, talvez. Havia algumas pessoas. Pela distância, não dava para ver se estavam realmente nuas.

Minha respiração começou a ficar difícil, pois a ansiedade me apertava o peito. Sentia que estava prestes a iniciar uma aventura, mas ainda a ponto de recuar. Um momento de hesitação me deteve por alguns segundos, fazendo-me aliviar o pé do acelerador e quase parar o carro.

Márcia me lançou um olhar intrigado. Era aquariana e, como tal, menos preocupada com as conseqüências das novas experiências.

Descemos com o carro até próximo à praia. Pudemos constatar que era, realmente, uma praia de nudismo. Podíamos contar umas dez ou doze pessoas, entre homens, mulheres e crianças, todos nus.

Para não dar a impressão de sermos apenas curiosos, levei a prancha, pois havia boas ondas no mar para justificar que alguém descesse até ali com outras intenções.

Uns cem metros à esquerda, estava um homem sentado em uma cadeira e, um pouco mais adiante, um casal. Duzentos metros à direita, dois ou três casais, à sombra de alguns guarda-sóis, mais algumas crianças brincando na areia. Vestidos, na praia, somente nós dois, que estávamos há dias procurando uma praia deserta para tirar a roupa e ficar tomando sol no corpo inteiro.

Nunca havíamos tirado a roupa em público e isso fez com que demorássemos uns vinte minutos até ficarmos nus, apesar da distância a que as outras pessoas se encontravam, que mal permitia distinguir um homem de uma mulher.

Um pouco medrosos a princípio, ali ficamos um bom tempo.

A areia quente e grossa da praia, em contato com as nádegas e a região pubiana, sem qualquer tecido para separar-lhes, fazia brotar uma sensação gostosa de intimidade com o chão. A brisa que vinha do mar, carregada de maresia liberada pela rebentação das ondas, passava pelo meu corpo totalmente desprotegido, totalmente integrado com o ambiente natural à minha volta. Como a simples ausência de um pequeno pedaço de pano podia resultar em tantas e tão fortes sensações!

Essas descobertas só não eram mais profundas e intensas porque minha consciência insistia em lembrar que a qualquer momento poderiam aparecer estranhos, ou até mesmo a polícia, para reprimir tão ousada busca por liberdade corporal.

Comecei a observar um grupo que estava à direita e vi um homem com equipamento de mergulho: pés-de-pato, máscara e um pequeno saco preso à cintura por uma corda. Um homem nu, com aqueles apetrechos, parecia realmente engraçado para quem não estava acostumado a ver pessoas nuas na praia.

Fizeram fogo na areia, colocaram o tacho em cima e começaram a cozinhar alguma coisa.

À distância, não podia identificar o que era, mas minha curiosidade era grande. Estivessem vestidos, eu já teria ido até lá para ver o que estavam fazendo, mas, como estávamos nus, eu não sentia coragem para tanto.

Mais alguns minutos se passaram e minha curiosidade venceu o medo. Decidi levantar e ir ver o que estavam fazendo.

- Tudo bem? Estão gostando da praia? - perguntou ele, com ar simpático.

Senti-me confortável e seguro, pela simpatia com que fui recebido.

- Tudo bem. Estou curioso para ver o que vocês estão cozinhando - respondi.

- É marisco, venha comer conosco - convidou.

Não pude recusar aquele convite e entrei no meio do grupo.

Nunca tinha visto nada igual. Pareciam índios. Estavam todos bronzeados por inteiro. Sentados à volta do fogo, pegavam mariscos do tacho e comiam.

Jamais tentara comer marisco, por achar um tanto repugnante seu aspecto, mas não pude me negar de experimentar quando uma moça morena, que estava sentada ao meu lado, me ofereceu um. Uma delícia!

Até hoje, não sei se o que me fez gostar de mariscos foi seu próprio sabor, ou se foi aquele ambiente paradisíaco no qual os experimentei pela primeira vez.

Passados mais alguns minutos, Márcia, que até então estava em nosso guarda-sol, veio juntar-se ao grupo.

Nossa fantasia de náufragos na ilha deserta tinha se desdobrado numa experiência muito mais forte e gratificante do que poderíamos supor.

Ao final do dia, retornamos ao nosso camping, em Quatro Ilhas, já determinados a desmontar nossa barraca e acampar na Praia do Pinho. O camping estava em fase final de construção e a nossa barraca era a primeira a ser montada.

Restavam-me apenas mais três dias de férias e foi lá que os passamos, sem vestir uma peça de roupa sequer, e nos próximos anos não mais procuraria outras praias.

(Continua...)

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