A ÉPOCA DA PRAIA DO PINHO
A
Naturis nasceu na Praia do Pinho, oficialmente em 1989.
Na
época, Celso Rossi e Paula Andreazza viviam num terreno recebido em Comodato,
ao lado da Praia do Pinho, que batizaram de Paraíso da Tartaruga.
No
Paraíso da Tartaruga, construíram um pequeno camping, em platôs, pois era na
encosta de um morro, e instalaram as sedes da AAPP – Associação Amigos da Praia
do Pinho e da Federação Brasileira de Naturismo, entidades fundadas e até então
presididas por Celso Rossi.
Todos
os anos, chegavam novos naturistas à Praia do Pinho, e ao Paraíso da Tartaruga,
e estes comentavam com Celso e Paula que eles também sonhavam um dia poder
largar tudo e ir morar numa área naturista.
Celso
tinha a idéia de montar uma empresa, como uma cooperativa ou algo assim, que
pudesse abrir possibilidades de trabalho a naturistas que quisessem viver em
tempo integral no e do naturismo.
Para
divulgação da AAPP e do Paraíso da Tartaruga, Paula editava o boletim informativo
da AAPP, chamado PinhoÉ.
Um
dia, resolveram dar um passo maior e transformar o PinhoÉ numa revista e a
empresa que já possuíam, chamada Andreazza & Rossi Ltda, transformou-se na
Naturis Empreendimentos Naturistas Ltda.
Muitas
pessoas estavam na lista de potenciais sócios da nova empresa, mas apenas
Milton Pereira integralizou, de fato, uma parte do capital, tendo se desligado
posteriormente.
Auxiliados
por Rose Espíndola Moennich, pois na época nem telefone havia por perto,
começaram a desenvolver novos produtos, como camisetas e moletons, com a griffe
Naturis, e adesivos. Paula Andreazza transformou o boletim informativo PinhoÉ
na Revista Naturis n. 0 e os sonhos começaram a tornar-se realidade.
Era
muito grande a dificuldade de conseguir patrocínio para a Revista Naturis,
especialmente quando o verão terminava e todos os turistas voltavam aos seus
trabalhos nas grandes cidades e Celso e Paula continuavam morando no Paraíso da
Tartaruga, sem luz, sem telefone e, quando chovia, sem condições de ir até a
cidade.
Investindo
o resto de suas economias geradas em dez anos de trabalho anterior, como
diretor de marketing, Celso apostou nas edições das Naturis ns. 1 e 2 como
sendo o período necessário a que ela atingisse a viabilidade financeira.
Edson
Medeiros, de São José dos Campos, era um grande apoiador da revista,
especialmente na parte editorial, enquanto Sérgio de Oliveira tentava vender
anúncios no Rio de Janeiro.
A
Naturis era editada em português e inglês, pois o naturismo no Brasil era incipiente,
enquanto na Europa e Estados Unidos possuía milhões de adeptos. A Revista
Naturis tinha a pretensão de atingir esses mercados, atraindo turistas do
hemisfério norte para as áreas naturistas no Brasil.
A
romaria junto aos órgãos públicos era enorme, pois o mercado de empresários
envolvidos diretamente com o naturismo era pratica mente
inexistente, e restava buscar o apoio de entidades oficiais incumbidas de
desenvolver o turismo.
Paralelamente,
a empresa Naturis contratou uma parceria com José Élvio de Oliveira, dono de
uma belíssima área de 14ha, com 350m de praia e privacidade total, para a
realização da tão sonhada vila naturista. Na praia de Pedras Altas, em
Palhoça/SC, a Naturis começou a implantar seu primeiro grande Projeto de
Ocupação Naturista.
A
inflação corria solta no Brasil e a dificuldade em cobrar os anúncios
conseguidos dos órgãos públicos era muito grande.
Por
outro lado, a FATMA, órgão de licenciamento ambiental em Santa Catarina, numa
atitude comprovadamente discriminatória, embargou o projeto.
Após
dois anos de lutas burocráticas e processuais, buscando apoio de todas as
autoridades possivelmente competentes para a solução do problema – inclusive
governador, presidente da Assembléia Legislativa, Ministro do Meio Ambiente –
Celso e Paula decidiram deixar o Projeto Pedras Altas em suspenso, sair da
Praia do Pinho – onde a situação fundiária não permitia o desenvolvimento de
algo semelhante – e partiram em busca de uma nova área para construir seu sonho.
Com
tudo isso, mais a precariedade das condições de trabalho, Celso e Paula tiveram
de suspender a edição da Revista Naturis.
Na
última temporada em que esteve sediada no Paraíso da Tartaruga, na Praia do
Pinho, a Naturis contratou o trabalho de filmagem de uma empresa de Balneário
Camboriú, com o intuito de produzir o primeiro vídeo documentário naturista
brasileiro.
Filmagens
e fotografias sempre foram tabus em áreas naturistas. Para evitar transtornos,
a Praia do Pinho foi dividida em duas metades, ficando reservado o canto sul
para a obtenção das imagens. Assim, para garantir a segurança e a tranqüilidade
dos demais usuários da praia, somente participaram das filmagens aqueles que
assinaram o documento de autorização, nas mãos de um naturista que ficava com o
encarregado de fiscalizar o trânsito entre as duas partes da praia.
Durante
mais de um ano, Celso Rossi realizou três diferentes edições sobre o mesmo
material colhido durante o feriado de Carnaval, para finalmente chegar a um
resultado adequado e lançar o vídeo “Praia do Pinho: Um Paraíso Naturista.”
Uma
trilha sonora foi composta especialmente para fazer fundo às imagens e dezenas
de depoimentos apresentavam o estilo de vida naturista, de forma simples, porém
verdadeira.
O
vídeo foi um sucesso e, nos anos seguintes, muitos milhares de pessoas
tornaram-se adeptas ao naturismo após assisti-lo.
Este
trabalho viria a consolidar a divulgação da Praia do Pinho e do Movimento
Naturista, além de, mais tarde, servir de suporte aos elevados custos de
impressão e distribuição da Revista Naturis.
Até
então, os sonhos eram grandes, mas a realidade do mercado naturista era
insuficiente para sustentá-los.
Logo
que fundou a FBN, em 1988, Celso Rossi organizou, junto com gaúchos,
paranaenses e paulistas, três outras associações: a AGN – Associação Gaúcha de
Naturismo, Parnat – Associação Paranaense de Naturismo e a SP-Nat – Associação
Paulista de Naturismo.
Após
quatro anos, entretanto, nenhuma delas ainda existia. Tinham sucumbido nos
próprios processos eleitorais e de elaboração de estatutos.
Para
despertar novamente a organização naturista, Celso Rossi, à frente da FBN,
começou a implantar vários núcleos naturistas, com delegados nomeados e sem
personalidade jurídica própria – não necessitando assim, estatutos. Então
surgiram o NPN – Núcleo Paulista de Naturismo, tendo Ale x andre
Tsanaclis como seu Delegado, o NGN – Núcleo Gaúcho de Naturismo, com Roberto
Marques Soares, o NPN – Núcleo Paranaense de Naturismo, com Mário Van Den
Bylaardt, além de outros tantos, em vários estados do Brasil. Também integrada
ao novo processo de desenvolvimento, estava a Rio-Nat – Associação Naturista do
Rio de Janeiro, tendo à frente Sérgio de Oliveira.
Esta
nova onda necessitava de um veículo de comunicação e integração desse público
naturista que voltava a se reunir de modo organizado.
Ressurgiu,
assim, a Revista Naturis, no seu n.03, com poucas páginas, edição econômica,
capa em preto e branco e a maior parte do conteúdo reportando o trabalho dos
núcleos naturistas recém criados. Parte dos custos da revista ainda eram
bancados pelos próprios idealizadores, mas uma considerável fatia de custos já
era absorvida pela venda de fitas de vídeo, por novos assinantes e outra parte
subsidiada pela própria FBN, carreando parte dos recursos da arrecadação dos
núcleos.
A
partir desse momento, com a revista Naturis difundindo as idéias naturistas e
estimulando os naturistas a dedicarem-se ao Movimento, começaram a se
proliferar novas áreas naturistas, a maioria delas provenientes dos núcleos que
se transformaram em clubes ou associações, como o clube Rincão, em
Guaratinguetá/SP, o sítio Fulano de Tal, em Lapa/PR, a praia de Barra Seca, em
Linhares/ES; o Sítio Ibatiporã, em Porto Feliz/SP; o Recanto Paraíso, na Serra
das Araras/RJ; o Solar de Guaratiba, em Guaratiba/RJ. Além destas, áreas já
existentes, como a Praia do Pinho, em Balneário Camboriú/SC; a praia de
Tambaba, em Conde/PB e a de Pedras Altas, que, em que pese o grande projeto
estivesse embargado, possuía um grupo de naturistas atuantes em torno do CNPA –
Clube Naturista Pedras Altas.
Todas
essas novas áreas naturistas começavam a tornar viável a comercialização de
anúncios em uma revista naturista que, sendo distribuída nas bancas do país,
divulgava e atraía novos adeptos a cada dois meses, o que, por sua vez,
reforçava as próprias áreas naturistas, com novos sócios.
O
estilo da Revista Naturis apresentava sempre um trabalho de qualidade e bom
gosto.
Paula
Andreazza dirigia a parte editorial e realizava, pessoalmente, as fotos das
matérias, procurando sempre o melhor ângulo e, principalmente, visando um
resultado no qual os naturistas que tivessem suas fotos publicadas na revista
se sentissem orgulhosos por isso.
Diferentemente
de outras publicações do gênero, destinadas exclusivamente ao público
naturista, a Revista Naturis, visava atrair a atenção do público em geral para,
com isso, angariar novos adeptos. Sendo assim, sempre houve a preocupação de
não expor ostensivamente genitais, de modo a não chocar os mais pudicos e
permitindo que a revista passasse, de mão em mão, sem o constrangimento ou a
sensação de proibido, característicos de outras publicações que apresentam
corpos nus, porém com intenção erótica.
Todos
os recursos provenientes da venda de produtos, da venda em bancas, de anúncios,
e ainda uma boa parcela de dinheiro próprio eram investidos na impressão de
cada nova edição, buscando sempre ampliar o número de páginas, fotos coloridas,
papel couchê, tiragem.
Após
pesquisar áreas de terras em várias partes do Brasil, em especial na Bahia, no
interior de São Paulo e no Rio Grande do Sul, Celso e Paula encontraram uma
chapada no topo uma colina, no município de Taquara/RS. Em função da
localização, dos recursos naturais da área e da privacidade oferecida pelo
terreno, já que todas as divisas encontravam-se abaixo da linha máxima, em
todas as direções, decidiram que ali, finalmente, executariam seu Projeto de
Ocupação Naturista.
O
lançamento e o sucesso da Colina do Sol foi um novo impulso para a Naturis, que
recebeu um considerável investimento por parte dos recursos gerados pela
Colina.
Mais
um vídeo documentário foi produzido, com o título “Colina do Sol: A realização
dos nossos sonhos de felicidade”.
Ao
mesmo tempo, o naturismo no Brasil ganhou um novo impulso e inspiração
editorial. Novos nomes surgiram, como Cândida Furtado, auxiliando na seleção de
matérias e na redação de ótimos artigos; Sérgio Costa e Fritz Louderback – este
último americano, vindo morar na Colina – encarregando-se da tradução para o
inglês.
O
passar dos anos e a continuidade das edições da Naturis, com mais de vinte e
cinco números, fez com que se tornasse um ícone do naturismo brasileiro, não
apenas a nível nacional, como também internacional.
Com
a difusão da Internet, a Naturis não tardou a ocupar um espaço de destaque, já
em meados de 1998, quando seu site www.naturis.com.br
já recebia mais de trezentas visitas diárias.
Visando
levar a idéia naturista aos jovens e pessoas mais integradas aos computadores,
a Naturis firmou uma parceria com Richard West, canadense, fotógrafo naturista
e produtor da revista em CD-Rom “Virtually”, ajudando, inclusive a viabilizar
sua vinda ao Brasil para a realização de fotografias e a produção de CD-Rom
sobre o naturismo brasileiro.
A DESCENTRALIZAÇÃO E O SANGUE NOVO
A
distribuição da Revista Naturis, por intermédio de distribuidoras
especializadas, não estava trazendo resultados satisfatórios, pois a Naturis
acabava ficando esquecida no depósito em meio a tantas outras publicações.
Marcelo Pacheco, que já trabalhava na Colina do Sol, foi então convidado a iniciar
um serviço de distribuição direta para as bancas de revistas.
O
resultado desse trabalho foi o crescimento das vendas, em Porto Ale gre, em índices sem precedentes. A Naturis vendia
mais do que muitas revistas tradicionais, pois passou a ficar exposta, através
de um trabalho personalizado de contato com o pessoal das bancas.
Poucas
edições após, Marcelo assumiu a distribuição direta também para a cidade de São
Paulo.
Na
seqüência desse desenvolvimento, ele foi convidado a gerenciar a distribuição
da Naturis para todo o Brasil, vindo residir, permanentemente, com sua
companheira, Carina Moreschi, na Colina do Sol.
Paula
Andreazza, já muito envolvida com outras atividades na Colina, transferiu a
responsabilidade pela parte editorial da Revista Naturis para Carina Moreschi,
que integrou-se ao time, ao mesmo tempo em que cursava a faculdade de
Publicidade, em Taquara. Carina, juntamente com a equipe da TCA Informática,
desenvolveram, então, a Revista Naturis Online, levando a possibilidade aos
naturistas e simpatizantes de realizar o download da Naturis no seu próprio
computador.
Finalmente,
em meados do ano 2000, Priscila Zanchetta, produtora cultural, veio instalar-se
na Colina do Sol, com seus filhos e, além de dirigir o Masti – Centro de
Desenvolvimento do Potencial Humano (centro holístico da Colina), passou a apoiar
o trabalho da Naturis.
Como
decorrência natural dos acontecimentos, e realizando o sonho inicial, abrindo
novos espaços para que naturistas dedicassem-se, profissionalmente, ao
naturismo, Celso Rossi e Paula Andreazza transferem as quotas da Naturis, para
Marcelo, Carina e Priscila, que são, ficam cerca de um ano à frente da empresa.
O
CAPITAL SOCIAL DA NATURIS
O
contrato social da Naturis não chegou a ser alterado para a entrada do novo
grupo, pois Carina Moreschi era menor de 21 anos e sua participação não foi
aceita pela Junta Comercial do Rio
Grande do Sul.
Desde
as alterações patrimoniais realizadas em decorrência da proposta aprovada de 15
de janeiro de 2000, o Capital Social estava dividido entre o Clube Naturista
Colina do Sol (90%) e Sol da Colina Adm. Ltda (10%). De fato, a empresa
pertencia totalmente ao Clube, pois a participação da Sol da Colina Adm. Ltda.
ficou estabelecida apenas pela necessidade de haverem, pelo menos, dois sócios
numa empresa Limitada. Nas alterações patrimoniais acima referidas, o Clube
Naturista Colina do Sol recebeu as quase 100 casas edificadas sobre área da
Colina, que eram de propriedade da Naturis, através da inserção do Clube como
quotista da empresa. Os demais produtos da Naturis (revistas, marca, vídeos,
site, etc.) foram repassados para à Sol da Colina Adm. Ltda. que, por sua vez
transferiram a Celso Rossi e Paula Andreazza.
Finalmente,
Celso e Paula venderam a totalidade dos produtos, estoques e matrizes de vídeos
e CDs, bem como a marca Naturis e o site na Internet a Vanderlei Castresano,
que reside na Ale manha, mas que
pretende voltar a editar a Revista Naturis oportunamente.